domingo, 31 de janeiro de 2010

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Boa noite!
Professora e caros colegas.
Escolhi pesquisar sobre primórdios da Revoluçaõa Indústrial.
Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se não todas) etapas do processo produtivo. Com a passagem da idade média para a moderna teve início a Revolução Industrial no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. Enquanto na Idade Média o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, na Idade Moderna tudo mudou. A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscou alternativas para melhorar a produção de mercadorias. A Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo.
Então concluimos que a passagem da idade média para a moderna trouxe sim avanço e tecnologia, mas começava aí desvalorização do trabalho humano e o desemprego.
Fonte de pesquisa: portal São Francisco.

RESPOSTA:

Permita-me discordar do seu ponto de vista, Rosimara.
Eu vejo a Revolução Industrial pelo lado positivo, pois ela veio dar fim ao feudalismo. E o feudalismo era um sistema de relação de trabalho, um pouco e somente um pouco melhor do que a escravidão. Antes da Revolução industrial praticamente não havia emprego, o trabalho era realizado em células familiares. Assim a Revolução industrial veio na verdade criar o emprego e não o desemprego.






Ouso também discordar de que o avanço tecnológico trouxe DESVALORIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO, como você concluiu. Pois um dos benefícios da Revolução Industrial foi justamente valorizar a mão-de-obra especializada. A tecnologia criou novas profissões e os bons profissionais de qualquer área são bem-remunerado, veja o caso dos cientistas, médicos, engenheiros, criadores de softwares e hardwares, e mesmo as profissões de operários como pedreiros, mecânicos e marceneiros, são bem requisitados quando se tratam de bons profissionais. O trabalho humano não foi desvalorizado com a revolução industrial, mas o desqualificado profissionalmente fica a mercê da economia local.


-------------------------------



Li na internet a obra de Norton Frehse Nicolazzi Júnior sobre a REVOLUÇÃO INDUSTRIAL e gostaria de tecer alguns comentários sobre o seu Tratado que tomei a liberdade de transcreve-lo logo abaixo.

MEU COMENTÁRIO: Destaco os seguintes pontos no texto de Norton:

1 – A BUSCA PELA SOBREVIVÊNCIA – O ser humano está disposto a sujeitar-se a outro desde que isso lhe garanta o mínimo de recursos para sobreviver. Quando a China passou para a fase de abertura comercial um comunista já não tão convicto disse: “Não importa se o gato é branco ou preto, desde que coma o rato.” Em outras palavras, o que ele queria dizer é que não importa qual é a política econômica em vigor, desde que ela garanta os recursos mínimos para sobrevivência, o cidadão aceita as regras do jogo. O homem aceita ser nômade, submeteu-se a senhores feudais, no inicio do capitalismo submeteu-se juntamente com sua família em pequenas fabricas familiares, se deixou incorporar em grandes multinacionais, o que importa é ganhar o suficiente para o seu sustento.

2 – COMPETIÇÃO - O texto de Norton também nos leva a refletir sobre a competição acirrada do capitalismo, onde a competição é predatória, onde os métodos de produção e comercio são tão competitivos que os empreendedores podem ter um crescimento meteórico hoje e cair no anonimato amanha se não se adequarem as novas exigências de mercado que surge a cada instante. A comparação feita entre o FORDISMO e o TOYOTISMO é bastante esclarecedor para entendermos como a fabricação em série, principalmente de veículos automotores chegaram ate os nossos dias.

3 – GANÂNCIA – Cabe ao Estado controlar a ganância dos homens e a medida que a sociedade vai ficando complexa, deve-se estabelecer leis que coíbam a exploração humana. Por causa da ganância dos homens foi necessários criar leis trabalhistas com o passar do tempo para proibir o trabalho desenfreado de mulheres e crianças, com longas horas de jornadas, sem direitos a descansos e em locais insalubres. As leis trabalhistas foram modificadas ao longo da história visando equilibrar a força de trabalho e os lucros. Os empresários estão sendo procurando aumentar os lucros ao ponto máximo, isso tem o lado bom quando na competição e na lei de oferta e procura, os preços dos produtos tendem a cair gradativamente. Mas nesta luta feroz as empresas procurar se estabelecer em países em que a mão-de-obra é barata e estes possam explorar o Maximo que puder a população nativa.

4 - NOVAS TECNÓLOGIAS – Essa é outra faca de dois gumes, pois a cada nova tecnologia inventada, se abre um novo mercado de produtos e serviços, uma nova maquina pode tirar o emprego de milhares de pessoas, mas em contrapartida gera emprego na industria que produz aquela máquina, alem do que é necessário mão-de-obra especializada para operar aquela máquina e mais gente especializada para fazerem a manutenção destas maquinas.



-----------------------------------------------------

Podemos estudar as transformações dos modelos de produção e de trabalho de diversas maneiras, com os mais variados enfoques. Vamos procurar delimitar um pouco esse processo histórico, enfatizando apenas alguns pontos que nos são mais pertinentes, ou seja, as mudanças que ocorreram no período final da Idade Média e, que de uma forma ou outra, facilitou as transformações que passaram a ser vistas a partir principalmente do século XVIII.
Se vamos pensar desde a Baixa Idade Média, temos que nos referir ao Renascimento Comercial que, em meados do século XII já começa a assumir relativa importância no contexto histórico que vamos nos deter agora. Esse florescimento comercial, impulsionado pelas inovações técnicas na agricultura e pelo conseqüente crescimento populacional vai ser nosso pano de fundo. Intimamente ligado a esses fatores, esteve o não menos importante renascimento urbano: as cidades passaram a ser um centro dinâmico de atividades artesanais e comerciais. Os últimos séculos medievais caracterizaram a dissolução do sistema feudal e a formação do sistema capitalista.
Assim, nesse processo de mudanças o trabalho de estrutura familiar vai prevalecer. O espaço temporal do trabalho é o dia, condicionado pela luz solar: ao nascer do sol inicia-se a jornada de trabalho, que só vai encerrar-se com o crepúsculo. As sociedades dessa época adoravam as forças da natureza, elas acreditavam num misticismo mágico que orientava e regulamentava suas vidas – isso mesmo apesar de ser prática comum tentar caracterizar o Medievo como um período de teocentrismo exacerbado.
Se já sabemos qual era o espaço temporal do trabalho nessa sociedade medieval, resta-nos saber qual era o espaço físico do trabalho: é o espaço do lar, da residência e dos arredores da casa familiar. Vai ser nesse espaço que o trabalho vai ser executado.
Se pensarmos em alguns tipos de trabalhadores dessa época, como os agricultores, os sapateiros e os alfaiates, poderemos verificar a real utilização do espaço temporal do dia e do espaço físico do lar para o trabalho.
O agricultor, com sua família, trabalha nos arredores de sua casa, num terreno concedido pelo seu senhor, plantando batatas, por exemplo. Trata a terra, semeia, cuida do crescimento de sua lavoura e colhe as batatas. Seus familiares, sua mulher e seus filhos, ajudam-no sempre.

O dia regulava a atividade produtiva, a família era parte integrante da força detrabalho. A imagem acima éOs comedores de batata, de Van Gogh.
O sapateiro, também com sua família, trabalha na sua casa. A oficina onde ele fabrica seus sapatos é a sua casa; o espaço do lar e o espaço do trabalho quase que se confundem. Em sua casa ele mora, alimenta-se, dorme e trabalha. Podemos perceber, então, que o espaço do trabalho é o espaço do lar, e vice-versa. Não havia uma fábrica de sapatos ou um lugar apropriado exclusivamente destinado ao fabrico de sapatos.
Da mesma maneira temos o alfaiate, que juntamente com seus familiares confecciona roupas no espaço do seu lar.

Muitos trabalhadores deixam o campo e vão para as cidades. As crianças são muito procuradas para o trabalho nas indústrias.
É importante ressaltar como o trabalho feminino e o trabalho infantil estão presentes nessa sociedade. As necessidades de sobrevivência e as obrigações servis contribuem para isso. As crianças, desde que já possam exercer alguma atividade laborativa, ingressam no mundo do trabalho para auxiliar na economia familiar. Nessa lógica, quanto mais filhos, maior poderia ser o aproveitamento produtivo. Pelo menos era assim que se apresenta aquela sociedade e, de maneira não muito distante, podemos observar a mesma lógica sendo empregada nas comunidades rurais mais atrasadas atualmente.




A preferência por mulheres e crianças nas tarefas que não exigiam força braçal tinha explicação no preconceito industrial burguês de que estes dois grupos de trabalhadores seriam mais facilmente domesticados, ou seja, mais fáceis de serem disciplinados e intimidados.
Com o comércio e o crescimento urbano se destacando nos anos finais da Idade Média, o mercado torna-se o espaço por excelência das trocas, do comércio, ainda que incipiente. Ora, se o mercado assume relativa importância no contexto das mudanças do trabalho, o mercado também vai contribuir nesse processo. A utilidade do mercado, da praça do mercado, onde as trocas ocorriam, só se dá depois que a cidade assume, no interior daquela sociedade medieval, o papel de centro aglutinador de pessoas e de produtos, frutos do trabalho de agricultores e artesãos.
A cidade, por si só, vai ser o espaço, cada vez mais, do trabalho. Rompendo as fronteiras do espaço temporal do dia e do espaço físico dos lares, o trabalho vai sendo executado no espaço da cidade, seja dia ou seja noite, seja em casa ou seja nas fábricas. Não só o espaço do trabalho é rompido: a estrutura feudal que vigorou durante quase toda a Idade Média rui.

Aos poucos a produção manual e rural é substituída pela industrial e urbana.
A ruína do sistema feudal cede vez ao surgimento do que costumamos chamar de sistema capitalista. À ruína de um e surgimento de outro foi decisiva a transformação efetivada pela ação dos reis e da burguesia: a expansão comercial, patrocinada pelos reis e enormemente apoiada, quando não financiada, pela burguesia emergente do rápido crescimento das relações comerciais particularmente citadinas (burgueses comerciantes, financistas e industriais).
O declínio do sistema feudal também faz com que decline o poder descentralizado dos senhores feudais, dando vez a um período em que os reis assumirão enorme poder rumo aos grandes Estados Nacionais, o Estado Moderno detentor central do poder.
Uma das evidências mais marcantes nesse processo histórico foi a da transformação de uma bipolarização social tipicamente feudal, a do senhor versus servo, para uma outra bipolarização, que é a marca maior do capitalismo: burguês versus proletário.
A nova estrutura social, a do sistema capitalista, não surgiu imediatamente após o declínio do sistema feudal, mas num processo lento e não tão longo. O crescimento comercial e urbano e a produção cada vez maior não foram o fator determinante: a produção em larga escala é que vai caracterizar definitivamente a revolução capitalista, pois é na transformação dos produtos em mercadorias que o sistema capitalista vai se firmar. O valor de uso dá a vez ao valor de troca.

O industrial burguês vai ser o proprietário dos meios de produção.
A partir da Revolução Industrial os trabalhadores deixam de dominar o processo produtivo e vendem sua força de trabalho por salários.
O trabalho na sociedade capitalista também vai diferir do da sociedade feudal. Os trabalhadores, antes detentores do seu próprio trabalho e com domínio total do processo produtivo, passam a ser trabalhadores que irão vender sua força de trabalho em troca de um pagamento. O tempo de trabalho e o espaço para o trabalho são outros. O uso do relógio vai permitir que se mensure a quantidade de trabalho em horas. O espaço físico, não mais o lar, mas a fábrica, vai condicionar os trabalhadores a um disciplinamento constante. A própria atividade laborativa exigirá disciplina na execução de tarefas mecanicamente repetitivas.
Um aspecto de continuidade pode ser aqui apreciado: todos os membros da família do trabalhador também eram trabalhadores, submetidos sem distinção aos mesmos trabalhos. A diferença é a intensa procura por mulheres e crianças para as fábricas, pois o baixo custo compensava, tendo em vista que as mulheres ganhavam muito menos do que os homens, e as crianças ganhavam muito menos que as mulheres. Um dos motivos, além do barateamento de custos, era a maior facilidade de se disciplinar esses dois grupos de operários.
Dá-se início ao processo de industrialização que culminará, na Inglaterra de forma mais aparente, na Revolução Industrial.

O cenário urbano ganha as paisagens e favorece o surgimento de novos hábitos de convívio social.
Como se produziam cada vez mais mercadorias, foi sendo buscado pelos proprietários burgueses formas de se aumentar o lucro reduzindo-se as despesas, fosse pela incrementação tecnológica das unidades produtivas, fosse pela maxiexploração dos operários(jornadas intermináveis de trabalho em locais insalubres, com baixíssima remuneração).
A introdução de inovações tecnológicas no corpo das fábricas vai ser muito cara para os trabalhadores de modo geral. Cada nova tecnologia representava, quase sempre, a redução dos postos de trabalho em nome do aumento da produtividade. O ponto culminante dessa trajetória foi, sem dúvida, a introdução da máquina a vapor.

A primeira fase da Revolução Industrial é identificada com o uso da energia a vapor e com o uso do ferro. As estradas ferroviárias tornaram-se o principal meio de comunicação, nos dois sentidos: levando para as fábricas matérias-primas e devolvendo nos mesmos vagões os produtos destinados ao mercado consumidor.
O contexto histórico decorrente da Revolução Industrial inchou as cidades. Camponeses em busca de melhores condições de vida migravam e se deparavam com um cenário um tanto quanto desolador. Para descrever o cenário das fábricas que tanto atraíram camponeses, bastam duas palavras: periculosidade e insalubridade. Periculosidade é o estado ou qualidade de algo que é perigoso. Insalubridade é a qualidade daquilo que origina doenças. Jornadas excessivas de trabalho; ritmo frenético das máquinas; a rotina do todo dia tudo sempre igual; fábricas sombrias, com pouca luminosidade, quentes e úmidas, quase sem nenhuma ventilação. O descontentamento era lugar comum no meio dos trabalhadores.
Descontentes, expulsos de seus postos de trabalho, sem emprego e sem mínimas condições de sobrevivência, os trabalhadores operários começaram a se organizar. Há, também, uma longa trajetória nesse processo histórico do trabalho até os trabalhadores operários definirem sua organização.
Numa segunda fase, vamos perceber a introdução de outras inovações tecnológicas, como a utilização de outras fontes de energia que não o vapor - a eletricidade e o petróleo são bons exemplos. Graças às novas fontes de energia foi possível criar novas máquinas e ferramentas. Em decorrência disso, uma outra estrutura de trabalho é colocada em prática.
Logo nas primeiras décadas do século XX, em Detroit, Henry Ford coloca em prática na sua fábrica de automóveis a produção em série, através das famosas linhas de montagem. Essa nova forma de trabalho consistia na avançada fragmentação de tarefas entre os diversos operários de sua fábrica.

Henry Ford e seu filho num Modelo T. A linha de montagem modificou totalmente a estrutura das fábricas e o trabalho do proletariado.
Ou seja, cada trabalhador seria responsável por uma única tarefa, que deveria ser repetida infinitamente de forma a se alcançar uma maior produtividade. O sistema fordista de produção está diretamente ligado aos fundamentos propostos pelo conjunto de teorias desenvolvidas pelo engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor para aumentar a produtividade do trabalho industrial.
Na busca pela eliminação do desperdício e da ociosidade operária e pela redução dos custos de produção, Taylor iniciou seus estudos sobre a Ciência da Administração, no começo do século XX. Desenvolveu técnicas de racionalização do trabalho operário e, em 1903, analisou e controlou o tempo e o movimento do homem e da máquina em cada tarefa, para aperfeiçoá-los e racionalizá-los gradativamente. Com base na idéia de que a eficiência aumenta com a especialização, Taylor dividiu o trabalho e limitou cada operário à execução de uma única tarefa, de maneira contínua e repetitiva.

Para obter a colaboração dos funcionários, foram estabelecidos remuneração e prêmios extras. A produção individual, até o nível de 100% de eficiência no tempo padrão (tempo médio que um operário leva para executar as tarefas), era remunerada conforme o número de peças produzidas. Acima dessa porcentagem, a remuneração por peça seria acrescida de um prêmio de produção ou incentivo salarial adicional, que aumentava à medida que a eficiência do operário era elevada. Além de racionalizar o trabalho do operário, Taylor tentou mudar o comportamento dos supervisores, chefes, gerentes e diretores que ainda trabalhavam nos velhos padrões, criando, assim, a Administração Científica, que foi rapidamente aplicada na indústria americana, estendendo-se a todos os países e campos de atividade.
No entanto, seus princípios de superespecialização foram criticados por robotizar o operário, fazendo-o perder a liberdade e a iniciativa de estabelecer sua própria maneira de trabalhar. Na segunda metade do século XX, quase todas as indústrias já estavam mecanizadas e a automação alcançou todos os setores das fábricas. As inovações técnicas aumentaram a capacidade produtiva das indústrias e o acúmulo de capital. As potências industriais passaram a buscar novos mercados consumidores, fruto do neocolonialismo. Os empresários investiram em outros países. Os avanços na medicina sanitária favoreceram o crescimento demográfico, aumentando a oferta de operários. Nos países desenvolvidos, surge o fantasma do desemprego.
A dobradinha Ford-Taylor orientou durante décadas a estrutura de trabalho no interior das fábricas. A busca pela maior produtividade com o menor custo levou a fábrica de Ford a construir um carro que, graças à racionalização do trabalho, teve seu custo reduzido significativamente: foi o Ford Modelo T, completamente produzido dentro da fábrica Ford e respeitando na sua fabricação todos os preceitos fordistas-tayloristas. A produção desse carro em série tinha, porém, um inconveniente, se assim podemos dizer: todos os carros eram produzidos iguais, em todos os sentidos. Como o objetivo principal era a redução de custos e o aumento da produtividade, o Modelo T só poderia ser fabricado de um mesmo jeito, inclusive na sua cor. Isso levou Ford a criar uma campanha publicitária dizendo que todo americano poderia ter o seu Ford Modelo T da cor que quisesse, contanto que a cor fosse preta. Era o paradigma da produção em série para atender a demanda de uma sociedade tipicamente de massa. Uma pequena observação: todo americano poderia ter o seu Ford Modelo T, no entanto, os funcionários da Ford dificilmente conseguiram comprar o seu Modelo T.
Essa estrutura de trabalho predominou no mundo inteiro no mundo inteiro até o final da Segunda Guerra Mundial, quando, no outro lado do mundo, no Japão, surge um novo sistema de trabalho, procurando otimizar os lucros ao mesmo tempo em que se reduziam as despesas. Foi também no interior de uma fábrica de automóveis que surgiu o novo sistema, conhecido como toyotismo.
Se o sistema fordista-taylorista foi enormemente criticado por robotizar os trabalhadores, não lhes dando a chance de criar e participar do processo de produção de maneira livre e participativa, o sistema toyotista se caracteriza principalmente por delegar aos trabalhadores a possibilidade de decidirem qual a melhor maneira de exercerem seus trabalhos. Um ponto que permanece valendo, tanto para um sistema quanto para outro, é a busca pela maior produção aliada com o menor desperdício.
No sistema toyotista, ao invés de o trabalhador participar unicamente com sua força de trabalho sempre repetitiva, ele tem a chance de poder inovar dentro do processo de produção. Surgem conceitos que orientam o trabalho dentro das fábricas: team work e qualidade total são sinônimos do sistema toyotista. Com isso, o trabalho realizado por times dentro da fábrica em busca da qualidade total vai resolver alguns dos problemas da era fordista-taylorista, mas trazer alguns outros, para os trabalhadores, é claro.
No primeiro sistema, a unidade fabril era o palco exclusivo de todo o processo produtivo. Por exemplo, na Ford do início do século XX, o Modelo T era totalmente fabricado no mesmo lugar. Desde suas etapas iniciais até o acabamento final, o carro ficava dentro do mesmo complexo industrial. Na Toyota japonesa do pós-guerra, o carro não é produzido inteiramente na mesma unidade. Algumas peças são produzidas em fábricas fornecedoras, localizadas na mesma região ou em qualquer outro lugar do planeta, buscando mercados de mão-de-obra mais baratos e livres de encargos sociais e trabalhistas.
A conseqüência imediata dessa fragmentação é a dissolução do poder operário que, parcelado em pequenas unidades produtivas, perdeu sua capacidade de organização, razão da força importantíssima dos sindicatos.

Burguês versus proletário. As revoluções de 1848 trouxeram a tona a luta de classes como principal paradigma a ser enfrentado no modo de produção capitalista. 1848 é o ano que Karl Marx e Friederick Engels publicam o Manifesto Comunista, convocando os proletários do mundo a pegarem em armas e enfrentarem a burguesia na revolução do proletariado.

Enquanto que na Ford produzia-se um mesmo carro para um público de massa, na Toyota a produção foi sendo gradativamente personalizada, com o intuito de atender maiores parcelas de um público consumidor. Se a Ford só produzia carros de cor preta, a Toyota conseguiu produzir carros de todas as cores sem perder no quesito economia. A saída encontrada foi a brusca redução dos estoques, dinamizando as relações entre a Toyota central e suas fornecedoras. Um complexo esquema utilizando-se de modernas tecnologias de comunicação possibilitou tal empreendimento, dando vez ao que se costuma chamar de era da informação.
A rapidez cada vez maior com que se davam as mudanças no mundo do trabalho fez com que uma parcela muito grande de trabalhadores ficasse sem emprego. O sistema toyotista só foi alcançar o Ocidente com fortes impactos na década de 1970 e 1980, principalmente na Inglaterra. Esse período é conhecido como o término dos anos dourados, ou dos trinta gloriosos (período que compreende o fim da Segunda Guerra Mundial e que vai até meados da década de 1970).
A crise mundial do petróleo foi um dos fatores que condicionaram o término da estrutura fordista de produção. A fábrica centralizada, de enormes dimensões, dá vez às fábricas descentralizadas, de dimensões adequadas. O que mudou nesse processo de transformações? O mundo do trabalho e as condições dos trabalhadores, principalmente. A qualidade total introduzida nas fábricas fez com que o desperdício fosse eliminado em grande escala: se em cada três trabalhadores elimina-se 30% de desperdício no trabalho de cada um, ou, em outras palavras, potencializa-se em 30% o trabalho de cada um, tem-se como resultado a possível eliminação de um dos três trabalhadores, pois os dois que restariam produziriam quase a mesma quantidade que os três anteriormente.
Então, juntamente com a qualidade total também foram sendo introduzidas novas máquinas, mais precisa e mais produtivas. Na época de Ford, os trabalhadores faziam carros com as máquinas. Na Toyota, os trabalhadores faziam com que as máquinas fizessem carros.
A dicotomia acima apresentada vai gerar uma crescente diminuição dos postos de trabalho industriais, com o deslocamento desses trabalhadores para os setores de prestação de serviços. De qualquer forma, a transferência de um enorme contingente de trabalhadores de um setor para outro não resolveu os problemas de demanda de emprego, principalmente os problemas de qualificação.
Resta-nos agora, na terceira fase da Revolução Industrial, em que energias alternativas, plástico e silício são a força matiz, buscar soluções para um mundo de desempregados e trabalhadores sem qualificação. Resta-nos trabalhar no sentido de incluir essa grande quantidade de pessoas em um limite suportável de sobrevivência, antes que o abismo entre classes sociais torne cada vez mais essencial a utilização de milícias particulares de segurança, de cercas eletrônicas e câmeras indiscretas que nos controlam a vida. É o Grande Irmão apresentado em um novo contexto histórico. A permanência continua sendo a luta de classes, o motor da história.

Lênin, um dos grandes líderes da revolução do proletariado russo. A busca por melhores condições de trabalho e garantias sociais levou os trabalhadores a obterem grandes conquista, principalmente durante o século XX.

sábado, 23 de janeiro de 2010

FORMAÇÃO DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS

ESTADOS NACIONAIS DA AMÉRICA LATINA


No curso de História da Unisinos, Maio/Agosto 2005 em sua Resenha: O processo de formação dos Estados nacionais na América Latina, escrito por Eduardo Scheidt lemos o seguinte texto sobre a formação da América Latina que transcrevo abaixo, mas gostaria de fazer uma apontamento sobre o tema: No meu ponto de vista a historia de formação dos países hispano-americanos tiveram uma história diferente da história do Brasil, pois neste último país, a integração foi mais contundente e o povo se manteve unido em uma só bandeira. Enquanto que os hispano-americanos se desagregaram em vários Estados. O Brasil tinha varias nações em seu território com mais de uma centena de tribos indígenas, mas politicamente eles não tiveram participação importante na independência do Brasil e nem na formação do novo Estado. No Brasil basicamente não houve guerra civil, mas na América Hispânica haviam outras motivações que os levaram a conflitos internos.



Eduardo Scheidt

--------------------------------------------------

O livro Inventando la nación é mais uma oportuna publicação acerca de
um tema que vem sendo bastante trabalhado pela história política recente: a origem
dos Estados e das nações na América Latina. Organizada pelos professores
Antonio Annino, da Universidade de Florença, e François-Xavier Guerra, da Sorbone
e recentemente falecido, a publicação conta com a colaboração de destacados pesquisadores
latino-americanos e europeus.

Trata-se de uma obra de grande envergadura, densa, com quase 700
páginas, abarcando mais de duas dezenas de artigos distribuídos em seis partes.
Em sintonia com o debate historiográfico recente, os autores se debruçam sobre o
complexo processo de formação dos Estados nacionais na América Latina durante
o século XIX. Neste sentido, a totalidade dos trabalhos reunidos aponta para processos
de construção de concepções e idéias sobre a nação ao longo do século,
rompendo com as visões consagradas pelas historiografias tradicionais, de forte
conotação nacionalista, que retratavam as nações como plenamente configuradas
no momento das independências.


No texto introdutório do livro, François-Xavier Guerra define a nação
moderna como uma nova maneira de conceber uma coletividade e como forma ideal
e inédita de organização social surgida na transição do antigo regime para a
modernidade, processo caracterizado pelo autor como uma revolução. Guerra também
destaca a originalidade latino-americana, em que as nações surgiram a partir
da desintegração dos impérios ibéricos e não como decorrência de movimentos
nacionalistas.


Em um artigo intitulado Los princípios rectores de la organización estatal en
las Índias, Horst Pietschmann tece críticas à historiografia
tradicional, especialmente no que se refere a temas como
“pacto” ou “Estado” coloniais, por centrar-se unicamente no
ponto de vista da metrópole. Enfocando sua análise nas
colônias, o autor vê no século XVII o início de uma fase de
relativa autonomia dos criollos, que foram paulatinamente
infiltrando-se nas estruturas burocráticas imperiais.
Pietschmann destaca os cabildos de espanhóis e de índios
como organismos de auto-governo desenvolvidos durante o
período colonial, no interior dos quais foram gestados os
futuros Estados nacionais. Estas autonomias locais caracterizaram-
se pela fragmentação, com o surgimento de inúmeros
grupos de poder, muitas vezes rivais entre si.

Na segunda metade do século XVIII, durante as reformas ilustradas,
a metrópole tentou por fim às práticas de auto-governo
nas colônias, entrando em atrito com os criollos, o que desencadeou
o processo de independências.


Partilhando dos posicionamentos de Pietschmann,
o historiador José Carlos Chiaramonte destaca, no texto
Modificaciones del pacto imperial, os cabildos e as
municipalidades como órgãos de soberania dos criollos. De
acordo com o autor, as pessoas se identificavam com uma
cidade ou um pueblo, conforme concepções jusnaturalistas
típicas de antigo regime, não havendo ainda a noção de
cidadania como um conjunto de indivíduos. Chiaramonte
vê na criação das intendências, durante as reformas
bourbônicas, a tentativa da metrópole em neutralizar o poder
local dos cabildos.

As reformas, entretanto, não obtiveram
sucesso, já que as entidades soberanas das futuras
nações não foram intendências, audiências ou vice-reinos, e
sim as cidades, que logo estenderam suas soberanias a espaços
territoriais circunscritos, constituindo as províncias
como principais corpos políticos soberanos no momento das
independências e primeiras décadas posteriores.


No artigo El ocaso de la monarqía hispánica:
revolución y desintegración, François-Xavier Guerra corrobora
sua tese da ruptura do antigo regime e irrupção da
modernidade como uma revolução, ocorrida simultaneamente
na Espanha e na América. Neste processo, a
multissecular monarquia espanhola desintegrou-se em vários
Estados independentes, que foram os primeiros a
implementar, na prática, os princípios, imaginários e propostas
políticas modernas, à exceção da Inglaterra e da França
revolucionária. Neste aspecto, as concepções de Guerra
vêm ao encontro da polêmica afirmação de Benedict
Anderson de que as nações modernas surgiram na América
antes que na maior parte da Europa.


Antonio Annino, no texto Soberanias en lucha,
desenvolve a tese de um “Estado misto indiano-colonial”
na América. Segundo o autor, os cabildos eram heterogêneos,
urbanos ou rurais, compostos por brancos ou índios e com a
mistura de populações, conforme a região da América. As
independências inauguraram longos períodos de guerras
civis, proporcionadas, ainda segundo Annino, pelas lutas
entre três soberanias: a dos pueblos, a das províncias e a dos
centros que aspiravam a ser nacionais. Contrariando os
posicionamentos de Pietschmann e de Chiaramonte,
Annino afirma que os fundamentos municipalistas dos futuros
Estados se conformaram durante a crise final do regime
colonial e não antes.


Em outro artigo de sua autoria, intitulado Pueblos,
liberalismo y nación en México, Annino centra-se no processo
mexicano de formação nacional. Destaca as comunidades
e os pueblos que, à época da constituição de Cádiz,
protagonizaram uma primeira experiência liberal nos territórios
do Novo Mundo. Estes pueblos-ayuntamientos se proclamaram
soberanos mesmo após a independência em 1821,
mantendo suas personalidades jurídicas até 1857. Como
em seu outro texto, o autor retrata o período enfatizando a
luta entre três formas de soberania: da nação, das províncias
e dos municípios. Annino ainda menciona os “sincretismos
políticos”, típicos das comunidades indígenas que interpretavam,
à sua maneira, a questão da incorporação à nação.


Segundo o autor, este é um tema que ainda precisa ser mais
bem estudado. Também sobre o caso mexicano é o artigo De la
república corporativa a la nación moderna, de Annick
Lempérière. Para a autora, as lutas entre liberais e conservadores,
que demarcaram a formação do Estado nacional
no México ao longo do século XIX, foram além de disputas
entre centralização e federação ou reformas e tradição. Estas
guerras civis caracterizaram-se pela luta entre dois
projetos distintos de nação e de sociedade: um fundamentado
nas idéias liberais e modernas inauguradas pela Revolução
Francesa, que entendiam a nação como uma associação
política soberana, e outro assentado nas estruturas
corporativas da sociedade colonial, especialmente na Igreja,
segundo a qual a sociedade se compunha de inúmeras entidades
corporativas, mas, uma vez triunfante, pretendeu
criar uma nação unificada. Na perspectiva da autora, os
conflitos entre modernas e antigas concepções perduraram
durante boa parte do século XIX.


Mónica Quijada



Mónica Quijada, em seu texto ¿Que nación?
Dinámicas y dicotomias de la nación en el imaginario
hispanoamericano, compartilha da visão historiográfica recente
de que a nação não surgiu com as independências, e
sim foi construída ao longo do século XIX. Mas, ao contrário
de historiadores como Guerra e Chiaramonte, que afirmam
que os conceitos de nação no período eram essencialmente
políticos, a autora sustenta que elementos culturais já se
faziam presentes nas concepções dos contemporâneos.

Neste sentido, questões como “vínculos de sangue, língua e
religião” foram utilizadas, desde o princípio, na construção
de identidades nacionais dos novos países latino-americanos.
De acordo com Quijada, outros elementos componentes
das identidades, logo após as independências, foram
imagens idealizadas dos autóctones, bem como a apropriação
simbólica de antigas culturas, em regiões onde elas foram
mais relevantes.


No campo dos mitos e dos imaginários, destacamos
o artigo de José Emilio Burucúa e Fabián Alejandro
Campagne, intitulado Mitos y simbologias nacionales en
los países del cono sur. Os autores analisam as armas, bandeiras
e hinos construídos pelos novos Estados, além de
expressões artísticas e literárias. O estudo leva-os a concluir
que, a despeito de influências européias, em especial
da Revolução Francesa, elementos das culturas indígenas
também foram apropriados na elaboração dos símbolos
das novas nações. O sol presente nas armas e bandeiras
da Argentina e do Uruguai, por exemplo, remete à
mitologia incaica, enquanto a bravura e a irredutibilidade
dos araucanos foram retratadas de forma épica e poética
na produção cultural chilena à época da independência.

A única exceção, conforme os autores, foi o caso do
Paraguai, que fez uso exclusivamente de elementos revolucionários
europeus na elaboração de seus símbolos
nacionais. Curiosamente, justo num país onde havia um
grande contingente de guaranis em sua população.
Embora o título do livro faça alusão à América
ibérica, a grande maioria de seus artigos, incluindo os da
primeira parte referente a análises conjuntas do continente,
aborda unicamente a América espanhola. Isto não
significa que o Brasil esteja ausente da coletânea. Há
trabalhos de José Murilo de Carvalho, Guilherme Pereira
das Neves e Ilmar de Mattos sobre o caso brasileiro.


Entretanto, as análises são feitas de forma separada,
destoando dos estudos sobre os demais países latinoamericanos,
nos quais percebemos diálogos, intercâmbios
e divergências entre os pesquisadores. Ao terminarmos
a leitura da obra, ficamos com a impressão de que
ainda há carências de estudos comparativos entre as
Américas portuguesa e espanhola, bem como maiores
interações entre historiadores de nosso país e o restante
da América Latina.


As eventuais carências, entretanto, não desmerecem
o conjunto da obra. O livro organizado por Annino
e Guerra reúne, indiscutivelmente, o que de melhor vem
sendo produzido sobre as origens das nações na América
Latina. A maior parte dos estudos destaca as singularidades
e as elaborações de idéias originais no subcontinente,
incluindo contribuições das populações autóctones nos
ideários, mitos e imaginários que foram construídos pelos
sujeitos históricos, questões até recentemente ignoradas
ou minimizadas. As novas pesquisas, neste sentido, demonstram
a ativa elaboração de idéias em nosso continente,
rompendo-se com as visões tradicionais de meras
“importações” de idéias e exclusivas influências estrangeiras.

As divergências entre os autores dos artigos demonstram
que ainda há pontos de controvérsia, confirmando
a complexidade do estudo do tema e a necessidade
de novas pesquisas. Para tal, a presente obra constitui
em uma referência obrigatória e de grande valia.




--------------------------

Estive lendo o blog Hija de Guevara cujo conteúdo foi postado em 17 Novembro de 2008 sobre o tema Formação dos Estados nacionais na América Latina, de autoria de Thaís e Isthá, o texto transcrevi abaixo e aproveito para tecer alguns comentários:
Veja como é duro um povo escravizado conseguir a libertação. Os índios da América foram escravizados em sua própria terra pelos invasores europeus, Os negros foram arrancados de sua terra e levados a uma terra estranha pelos invasores europeus que usaram os negros para colonizar ao mesmo tempo em que trabalhavam como escravos. Lembro-me do povo hebreu que foi ao Egito como convidados de Faraó e de José e depois ficaram 400 anos escravos. Os negros e índios demoraram mais de 300 anos para conseguirem sua libertação.
Outra observação que faço sobre a formação dos países latino-americanos é que freqüentemente após a libertação do domínio estrangeiro, os libertados entram em conflitos internos para estabelecer quem vai governar e como será divido o território. A libertação da África no século XX também gerou sucessivas guerras civis entre grupos rivais. O leste europeu após sair da cortina de ferro da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) entrou em intermináveis conflitos entre suas varias etnias.

As nações recém-independentes da América ainda que poucas vezes entraram em conflito armado, não conseguiram manterem unidas e havia varias razoes para impedir esta união. No fundo é que nascemos com o instinto de sobreviver e depois superar os demais e domina-los. Assim a história da humanidade será de conflitos intermináveis até que uma nova Ordem seja estabelecida. O homem pode dominar parte da natureza e os animais, mas não conseguem dominar seus instintos de poder e vanglória.
---------------------------------
Texto de Thais e Isthá:

O nacionalismo na América Latina.

A colonização e suas diversas vertentes foi um fator fundamental para a fragmentação da América como unidade territorial. As diferentes formas de exploração colonial se manifestaram através da utilização feita pelas metrópoles e foi um fator fundamental para a divergência destas unidades, que tinham tantas convergências entre si.

- América Hispânica: servidão ameríndia;
- América Lusitana: escravidão africana;
- América Anglo-Saxônica: plantações sulistas escravocratas e propriedades familiares nortistas;
- Caribe: plantations, nações micro-insulares e piratas.

O século XIX foi marcado pela estruturação dos Estados nacionais na América, e teve como ponto de partida os primeiros processos de independência, no início do mesmo.

As colônias espanholas e portuguesa foram palco de transformações políticas e econômicas, marcadas por guerras civis e conflitos na disputa por territórios, poder e influência.
A própria geografia territorial influenciou nas disparidades entre os diferentes espaços, tendo a metrópole dedicado maior interesse à núcleos específicos, que ficava concentrados e separados por barreiras geográficas, como desertos ou cordilheiras.






A invasão da Espanha pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte em 1810 catalizou todo o processo de independências na América Latina.
As elites criollas (filhos de espanhóis nascidos na América) influenciaram-se por ideaís iluministas de libertação da França e de república independente dos Estados Unidos, buscaram seus próprios processos emancipatórios através de líderes como Simon Bolívar e José de San Martí...

Com a restauração da Coroa em 1814, intensificaram-se os ideais de libertação frente a uma ofensiva recolonizadora da Espanha..
Bolívar então propôs, na Carta da Jamaica, a unificação da América Hispânica, desde o México até a Argentina e sua independência em relação à metrópole.

“ É uma idéia bastante grandiosa pretender formar uma só nação (...) Já que tem uma origem, uma língua, uma religião e os mesmos costumes deveria, por consequencia ter um só governo, que será configurado através de diferentes estados que haverão de formar-se. Mas não é possível, porque climas remotos, situações diversas, interesses opostos e caráter discrepante, dividem a América.”
Simon Bolívar, em Carta de Jamaica.

Mais tarde, em seu discurso Carta de Angostura, Bolívar insiste na necessidade de se partir da própria realidade e busca conscientizar o povo através de questionamentos sobre sua própria identidade.
A fragmentação territorial da América Hispânica se deu sobre forma de oligarquias regionais, que herdaram o modo administrativo metropolitano.

Bolívar, então presidente da Grã- Colombia, convocou o Congresso do Panamá, numa última tentativa de integração, mas poucas nações compareceram e o Congresso foi um fracasso.
Esta fragmentação foi fator gerador de diversos conflitos, guerras civis e de fronteiras, já que os novos Estados formaram-se baseados na defesa dos interesses da elite criolla e dos caudilhos políticos regionais.

O México ainda propôs iniciativas para reintegração, revelando ambições de tornar-se líder regionalmente, mas perdeu força após a Guerra com os Estados Unidos. O projeto bolivariano concentrou-se na América do Sul.
No fim do século XIX o hispano-americanismo foi substituído pelo pan-americanismo, graças à ascensão dos EUA como grande potência mundial e aos sucessivos fracassos nas tentativas integracionistas.
Este pan-americanismo teve suas bases na Doutrina Monroe, que foi um projeto norte-americano para estender sua influência à América Latina e impedir que nações européias pudessem fazer o mesmo.

A “América para os americanos” sintetizava a oposição entre república independente e colonialismo europeu e denotava o interesse norte-americano em estabelecer uma área onde tivesse acesso a mercados e comoddities.
Esse duplo caráter da Doutrina Monroe -anticolonial e expansionista- foi o principal fator para sua manutenção durante tanto tempo, servindo como base ideológica para a construção de toda esfera de influência dos EUA.

Formação dos Estados Nacionais

A fragmentação do território e a consequente formação dos Estados nacionais foram causadas por dois fatores fundamentais e inter-associados.

A Internacionalização do modo de produção capitalista: conduziu à uma maior internacionalização do poder burguês mundialmente, que buscava a expansão e internacionalização da economia. Esta economia internacional caracterizava-se por princípios de livre-comércio, divisão internacional do trabalho de acordo com as vantagens comparativas de cada país. Foi um processo de caráter econômico-social.








Emancipação das Colônias Ibéricas: estes processos emancipatórios tiveram influencia em no aspecto político-militar, contribuindo para a formação de um conceito de América Latina e seus limites territoriais.

A identidade nacional, da maneira como foi concebida, prevê a participação popular na vida política, ou ao menos da classe média mais intelectualizada. Na América espanhola a intensa participação popular e a existência de vertentes mais radicais foram motivadoras de diversos conflitos.

O poder político tinha caráter local e regional e este poder, geralmente representado pelas elites e criollos, não possuía senso nacionalista e suas negociações econômicas aconteciam preferencialmente com o exterior. Este fato iniba a construção de um mercado interno e de um maior desenvolvimento econômico dos novos Estados.

A unidade da América era um problema geopolítico e econômico, já que não podia manter-se devido à enorme extensão territorial, demografia irregular, entre outros.

A disparidade entre a crescente ascensão dos EUA e aos grandes problemas enfrentados pelas nações latinas, deu espaço para a elaboração das mais diversas tentativas de integração, onde nações buscavam associar-se, sem, no entanto, perder sua autonomia ou soberania. Foi um complexo processo de associação e confrontamento entre as nações, que também buscavam sua própria autodefinição e identidade nacional.

Havia duas correntes principais, e opostas, quanto ao relacionamento entre as nações latino-americanas.

Projeto Modernizador: seguia diretrizes dos países mais desenvolvidos. Buscavam avanço tecnológico e priorizavam modernização em detrimento das origens culturais.

Projeto Identitário: buscava a valorização da identidade latina, da soberania nacional e do aprofundamento dos laços de solidariedade. A valorização dessas soberanias visava a manutenção das independências políticas e da integridade territorial. Valorização cultural do latino, do indígena, do humanista e da não-intervenção dos países desenvolvidos nas nações latino-americanas.

DESINTEGRAÇÃO DO LESTE EUROPEU

Irineu Junior publicou uma matéria sobre o tema no site: http://www.coladaweb.com/historia/formacao-e-desintegracao-da-urss que considerei muito oportuna de transcreve-la na integra conforme se vê abaixo, pois dá um panorama de fatos que minha geração pode assistir pela televisão e acompanhar diariamente pelos meios de comunicação.




Texto de Irineu Junior.


Introdução

A história da humanidade sempre foi marcada pela ascensão, hegemonia e queda de grandes impérios, nas mais diversas regiões do globo, como exemplos destes podemos citar o Império Egípcio, Babilônico, Romano, SIRG ( Sagrado Império Romano Germânico), Inca , Asteca, Árabe, Otomano, Alemão e mais recentemente o Império Russo que atinge seu colapso com o fim da URSS em 1991.

As conquistas destes impérios sempre foram marcadas por inúmeras guerras deflagradas por disputas territoriais, diminuição, incorporação e extermínio de etnias, ou seja, por imposição forçada de um determinado grupo ( mais forte belicamente ) contra outros mais vulneráveis.

Com o grande Império Russo não foi diferente, na presente pesquisa vamos verificar todas as etapas que vão desde a formação do Estado Russo no século IX, todo seu processo de expansão territorial ( para a Sibéria, Cáucaso e Báltico), passando por fatos importantes de sua história como a Revolução Bolchevique de 1917 que implantou o socialismo real, sua participação na 1ª Guerra Mundial , formação da URSS em 1922, participação na 2ª Guerra Mundial, guerra fria, fatores que levaram a crises econômicas e políticas, perestróika, glasnost, CEI e atualidades como a explosão de graves conflitos étnicos envolvendo chechenos e outras minorias que fazem parte da Federação Russa e que lutam por independência.

Não há dúvida em que a desintegração da URSS foi o principal fato geopolítico do final do século XX, fato este que gerou profundas modificações em todo leste europeu e mudou a ordem mundial que agora possui apenas os EUA como grande superpotência.
Devido a todos estes fatores é imprescindível que compreendamos toda a dinâmica que levou a ascensão e queda do “Império Vermelho” e seus reflexos no mundo.

1) Formação e Expansão territorial da Rússia

Não se pode falar da Rússia atual sem antes entender o processo de territorialização e todos os caminhos que levaram a formação da URSS, sua ascensão e posterior extinção. Pois a Rússia de hoje é reflexo deste processo já que sempre esteve na liderança do bloco socialista e é a maior herdeira da antiga URSS.
Para tanto, vamos fazer um pequeno retrocesso histórico que vai desde a expansão territorial até atual situação político-econômica da Rússia.




Formação Territorial

O longo processo de expansão territorial russo se estende desde o século IX até o inicio do século XX. Partindo de uma pequena faixa de terra localizada, de forma bem genérica, entre os mares Báltico e Negro, grupos russos se expandiram para todas as direções. A expansão trouxe como conseqüência a conquista e a submissão de muitos povos pelos russos e a constituição de um estado com nítidas características de heterogeneidade étnica.
A constituição do Estado russo ocorreu em 862. Por volta do século XIII veio o domínio mongol que dura mais de 150 anos. Com a libertação contra os mongóis começa um grande processo expansão territorial e com a chegada ao poder do czar Pedro o Grande, Moscou se torna centro do império e a conquista expande-se para o leste ( Sibéria), região do Cáucaso e a região do Báltico.
Com o czar Alexandre II veio a conquista do território da Ásia Central e extremo oriente até a costa do mar do Japão, ampliando assim as saídas marítimas do império. Para assegurar a posse do território a Rússia constrói neste período as ferrovias Transcaucasiana e Transiberiana, que estimularam a industrialização na metade do séc. XIX, principalmente os setores siderúrgicos, metalúrgicos e de extração mineral, além de integrar as vastas regiões, as ferrovias ajudaram a manter o poder centralizado.
Quando eclodiu a 1ª Guerra Mundial, o Império russo se apresentava como um do protagonistas do conflito. A guerra só contribuiu para o fim do Império russo que foi derrubado antes mesmo do fim da guerra, em 1917 pela revolução Bolchevique.




Revolução Russa

No final do século XIX e início do XX a Rússia passava por graves problemas sociais e ainda sofria reflexos da guerra contra o Japão ( 1904-1905) e 1ª Guerra mundial iniciada em 1914, as quais renderam pesadas percas materiais e humanas. Todos estes fatores contribuíram para a insatisfação do povo russo em meados da década de 10.

Neste quadro várias forças políticas se manifestaram, entre elas destacavam-se a dos socialistas marxistas, divididos em dois grupos: os bolcheviques ( maioria) chefiados por Lenin e os mencheviques que juntas se opunham ao governo do czar Nicolau II lutando por reformas sociais e econômicas. Em março de 1917, o czar abdicou. Em outubro do mesmo ano liderados por Lenin, a Rússia adotou o regime socialista de economia planificada e centralizada, sendo o governo liderado pelo partido bolchevique posteriormente transformado em Partido Comunista da União Soviética ( PCUS).
Com o desaparecimento do Império Russo e com o surgimento da URSS iniciava-se um novo momento para a humanidade que gerou expectativas quanto ao surgimento de um novo mundo e de um novo homem. Os eventos históricos ocorridos nas décadas seguintes deixaram dúvidas quanto essas expectativas.
As bandeiras levantadas pelos revolucionários bolcheviques objetivavam acabar com todas as injustiças cometidas durante o regime dos czares. No entanto o novo regime conservou e reproduziu traços marcantes do antigo, a ponto de seus líderes chegarem a ser comparados muitas vezes aos czares que eles haviam deposto.
Acredita-se que algumas idéias originadas de Lenin para romper definitivamente com o passado e criar um “novo país” não puderam ser postas em prática em virtude da guerra civil que eclodiu no país em 1918 e durou até 1921.

A guerra Civil

A guerra civil opôs os bolcheviques, que buscavam sedimentar sua autoridade no país, a forças ligadas ao antigo regime, conhecidas como “exército branco”, que relutavam em admitir a derrota do czarismo. Geralmente sob o comando de ex- oficiais czaristas e ajuda de tropas de vários países – entre eles a França, Grã-Bretanha e Japão, que pretendiam promover a volta ao capitalismo e abocanhar territórios pertencentes a URSS, os “brancos” chegaram a ocupar diversas regiões na tentativa de formar um governo paralelo ao bolchevique. Essas forças, no entanto, foram gradativamente batidas e as áreas libertadas pelo Exercito Vermelho passaram definitivamente a fazer parte da URSS.
Formação da URSS
Com o fim da guerra civil, a Rússia pôde por em prática seus ideais socialistas. Instalou-se pela primeira vez no mundo e de forma institucional, o regime socialista.
Empenhada em solucionar seculares problemas socioeconômicos, a Rússia situou-se como um modelo para países que enfrentavam dificuldades semelhantes, especialmente para os que recebiam sua influência direta cultural e política, em virtude da proximidade geográfica. A partir daí, a expansão do socialismo passa a ter conotação geopolítica-ideológica, fator que definiu, em 1922, a criação da URSS, abrangendo os territórios antes pertencentes ao Império Russo.
Eram, portanto, 15 Estados formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, com a direção do partido comunista centralizado em Moscou, numa área territorial de aproximadamente 22 milhões de Km2 de extensão.

Economia Soviética

O governo soviético criou um grupo de trabalho denominado Gosplan ( Comissão do Plano Geral do Estado), com o objetivo de planificar e centralizar a economia. De inicio estabeleceu-se um plano econômico de emergência, elaborado para vigorar no período de transição do capitalismo , ou economia planificada. Esse plano ficou conhecido como NEP ( Nova Política Econômica).
Em 1929, quando Stalin se consolidou no poder, a NEP foi abandonada e substituída pelo Planejamento Econômico centralizado , onde o Estado por meio do planos Qüinqüenais, planejava investimentos, quantidade e qualidade de produção, distribuição e preços.
No curto espaço de doze anos ( de 1928 a 1940), a ex-União Soviética conheceu um grande desenvolvimento industrial . Recuperou, com vantagem a posição perdida às vésperas da revolução de 1917. De Quinta nação mais industrializada, no início do século, passou para o terceiro lugar, em 1940 , perdendo somente para os EUA e a Alemanha.
Participou da Segunda Guerra Mundial, ao lado dos aliados, vencendo a Alemanha nazista. Após a guerra, torna-se uma superpotência e passou a competir com os Estados Unidos pela liderança mundial.

2) 2° Guerra mundial, Inicio da guerra fria e bipolarização
A participação da URSS na II Guerra Mundial tem início em 1941, quando seu território foi invadido pelas tropas alemãs. Este acontecimento foi decisivo para levar a União Soviética a se unir às forças contra o (Reino – Unido, França...) na luta contra o Nazi-facismo. Durante vários meses os alemães impuseram severas derrotas aos soviéticos. Porém, a partir de 1942 acontece uma reviravolta. Os alemães começam a recuar devido resistência dos soviéticos e ao rigoroso inverno com temperaturas 30º abaixo de zero.
Em 1943 os soviéticos derrotaram os alemães na batalha de Stalingrado. Daí por diante as tropas nazistas foram sendo afastadas do território soviético.
A partir dessa vitória a União Soviética se fortalece em 1945 emerge como a segunda maior potência mundial.
Durante a Guerra a União Soviética mostrou ao mundo o seu poderio militar.
Em um curto período a URSS:
Contribui efetivamente para a derrota do nazi-facismo;
Readiquiriu, na conferência de Yalta e em Postdam territórios que havia perdido por ocasião da I Guerra Mundial;
Expandiu seu território e ampliou sua área de influência, submetendo vários países do leste europeu que viviam sob regime socialista; Polônia; Techoslováquia; Hungria; Romênia; Iugoslávia; Bulgária; Albânia e mais tarde a Alemanha Oriental.
Ao final do conflito mundial a economia da URSS estava arruinada e o número de mortes somava cerca de 20 milhões. Apesar disso ela emerge como uma grande potência do planeta.



Guerra Fria

No Pós-Guerra, EUA e URSS, surgem como as duas superpotências mundiais entrando em rivalidade na busca pela hegemonia mundial.
A partir desse momento ficaram bastante tensas as relações entre os Estados Unidos e a União Soviética que passaram a disputar áreas de influência internacional. Iniciava-se assim o período que ficou conhecido como Guerra-Fria que estendeu-se de 1947 (com a Doutrina Truman) até fins da década de 80.
O mundo foi bipolarizado, ou seja, dividido em 2 blocos que se diferenciaram geopolíticas ideologicamente: o Bloco Ocidental, liderado pelos Estados Unidos.Era composto pelos países capitalistas; O Bloco Oriental, conhecido como Cortina de Ferro era dominado pela URSS, compunha-se dos países socialistas.
A tensão entre as potências EUA e URSS era grande. Para os norte-americanos a União Soviética e o socialismo representavam a negação de todos os seus princípios políticos; ditadura ao invés de Democracia; planejamento econômico centralizado ao invés da liberdade de escolha e do pensamento; e a sujeição do individuo ao Estado.

O confronto entre EUA e URSS foi intenso, estendendo-se pelos planos da economia, tecnologia e armamentos. Procurando sempre superar forças um do outro, ambos mergulharam em uma acirrada corrida armamentista. Houve grande investimento em tecnologia, indústrias bélicas (como as de aviões, submarinos, helicópteros, mísseis...) industria aeroespacial e especialmente Industria Nuclear.

Já quando lançaram as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki os Estados Unidos pretendiam mostrar a URSS seu poderio militar.

O mundo viveu um período de grande tensão, pois caso as potências se confrontassem diretamente suas armas nucleares se encarregariam de não deixar sobreviventes. Seria o fim da história. Durante esse período o que garantiu a paz foi justamente à premissa da mútua destruição assegurada.

Mas os conflitos entre EUA e URSS ocorriam de maneira indireta. Quando Estados Unidos URSS disputavam áreas de influência, o confronto se dava nas regiões pretendidas. Foi como aconteceu na Guerra da Coréia e a Guerra do Vietnã.

As duas superpotências também disputaram a corrida espacial. A União Soviética lança o primeiro satélite artificial em órbita da Terra o Sputinik em 1957, e o primeiro homem a viajar na órbita da terra, Iuri Gagarin em 1961. Os Estados Unidos lançam seu 1º satélite artificial Explorer em 1958. Na década de 60 e 70 a competição espacial se intensificou.
A União Soviética rivalizou com os Estados Unidos na busca pela hegemonia mundo durante toda o período da Guerra Fria.









A Industrialização sob uma economia planificada


A União Soviética, em sua maior expansão territorial, no pós-guerra passou a ser composta por quinze repúblicas, ocupando um território de 22,4 milhões de quilômetros quadrados; englobando mais de uma centena de povos.
Enquanto o mundo se guiava pelos padrões tecnológicos, da 2º Revolução Industrial, a economia soviética funcionou bem. A URSS cresceu em termos tecnológicos se fortaleceu militarmente. Até então seu modelo de economia estatizada e planejada funcionou bem.
A industrialização foi beneficiada pelos recursos do subsolo, principalmente o carvão e a linhita. Isso favoreceu a instalação de poderosas usinas termelétricas localizadas em áreas carboníferas, nas Ucrânia e em Moscou e diversas usinas hidrelétricas. Também há imensos recursos em minerais ferrosos e não ferrosos.
A partir do ingresso da URSS na 2º Guerra Mundial, foi priorizada a indústria bélica. Isso aconteceu no 3º plano qüinqüenal.
O quarto plano qüinqüenal (1946-1950) foi direcionado para a recuperação da economia reconstrução das fábricas e das obras de infra-estrutura destruídas pela guerra. Investiu-se na construção de barragens, ferrovias, redes de transporte etc.
Os planos que vieram a seguir continuaram a priorizar o setor industrial pesada e bélico. Principalmente industrias como a siderúrgica, a petrolífera a de maquina e equipamentos. O setor bélico destacava-se na produção de: aviões, navios, submarinos, helicópteros, carros de combate, bombas, mísseis, metralhadoras, fuzis, canhões, obuses etc.
A União Soviética por um grande período ditava juntamente os Estados Unidos, ritmo das pesquisas cientificas ciência e tecnológica.
Destacou-se nas indústrias aeroespacial, nuclear, de informática, na tecnológica bio-industrial, engenharia genética e outros ramos da pesquisa avançada.
Do pós-guerra até os anos 70 a União Soviética conseguiu acompanhar e por diversas vezes liderar os níveis tecnológicos e produtivos, mantendo-se como potência não só militar, mas econômica.

3) O declínio da URSS.

Os movimentos separatistas que tiveram início nas republicas Bálticas (Lituânia, Estônia e Letônia) foram decisivos para desencadear uma desintegração em série das republicas soviéticas.
A grande diversidade étnica existente no leste europeu também tiveram uma grande parcela de contribuição para que essa desintegração acontecesse, mas a principal causa desses movimentos separatistas e movimentos nacionalistas era o descontentamento da população em relação ao sistema de governo existente. A população começou a perceber que à distância que os separava dos ocidentais estava ficando cada vez maior e atribuíram esses retardos tecnológicos ao modelo econômico utilizado pelos governantes ultraconservadores que não apostaram na economia de mercado, não abriram mão do uni-partidarismo, preferiram sempre estar com o poder centralizado nas mãos do Estado, enfim não contribuíram em quase nada para que um país de tão grandes dimensões não tivesse mergulhado em tão profunda crise tecnológica e econômica.
O descontentamento da população gerando movimentos nacionalistas também desencadeou uma série de conflitos no leste europeu , a maioria das repúblicas soviética partiu em busca de sua independência. Poucas republicas conseguiram sua independência sem derramamento de sangue.
Foi nesse contexto que em 1985 MIKHAIL GORBACHEV assume o governo e tenta reverter à situação, tentando fortalecer as republicas soviéticas e evitar a desintegração.
GORBACHEV inicia a dura transição da economia planificada para a economia de mercado. Inicia um período de reformas na URSS implantando a Glasnost e a Perestroika, que nada mais eram senão a abertura ou transparência política e a abertura da economia. A intenção era regularizar a situação econômica e política do país. Com essa abertura econômica, a URSS estava aceitando investimentos estrangeiros no país, coisa que até então não era possível. Outra tentativa para que não ocorresse esta desintegração foi à autorização à criação de outros partidos político além do PCUS. Apesar das tentativas de GORBACHOV em manter as republicas unidas, isso não foi possível, uma a uma as repúblicas soviéticas foram conquistando a sua independência. A URSS organizou até 30 de Dezembro de 1991 quando se formou a CEI e a Rússia deixando o país então de ter um poder central único exercido pelo Estado para construir sociedades democráticas.

O que é a CEI?

A CEI não é um país, como era a URSS, nem foi criada para substituir essa grande potência. É uma organização de cooperação entre antigas repúblicas que passaram muitos anos ligados pelo governo central de Moscou, porém dessa vez cada qual tem assegurado a sua soberania.
Essa organização cuja sede se localiza em Minsk, capital da Belarus, previa, por ocasião de sua fundação, além da cooperação econômica, a centralização das Forças Armadas e o uso de uma moeda comum, o rublo. Entretanto as repúblicas ainda não chegaram a um acordo para a integração político-econômica. Várias questões impendem o funcionamento amplo da CEI.
Ela é uma comunidade composta pela maioria das ex-republicas soviéticas. Trata-se de um aglomerado de países que mantém laços independentes, mantendo relações de cooperação, embora sob a hegemonia da Rússia, que na pratica, substituiu a União Soviética no cenário internacional.

4) A nova Rússia e a ordem mundial

Desde a grave crise econômica que enfrentou ao longo dos anos 90, o país vem perdendo o status de potencia mundial. Seu quadro econômico já vinha se deteriorando desde a época da União Soviética. O fracasso da Perestroika e a desastrada transição para a economia de mercado lançaram o país em profunda recessão.
Os desequilíbrios ocorridos neste período (1991-1999), levaram muitos investidores a retirar o seu dinheiro do país. Assim, em agosto de 1998, teve inicio uma forte crise financeira, que levou o governo russo a decretar a moratória da divida externa.
Essa atitude afetou o mercado financeiro mundial, provocando queda nas bolsas de valores e fuga de capitais também em outros mercados emergentes, como o Brasil. O FMI e outras instituições internacionais concederam um empréstimo de emergência ao governo russo, mas a situação continuou se agravando. Os capitais continuaram em fuga, até mesmo o dinheiro emprestado, o que forçou o governo a desvalorizar o rublo e aumentar as taxas de juros. A conseqüência disso foi o aumento do desemprego, o aumento da pobreza que já estava grande e o aumento da concentração de renda no país.
Essa transição caótica da União Soviética para a economia de mercado propiciou as condições ideais para a penetração generalizada do crime organizado nas atividades empresariais da Rússia e das demais republicas. Também induziu a proliferação de atividades criminais originarias da Rússia e da ex-União Soviética, tais como o trafico de armas, materiais nucleares, metais raros, petróleo, recursos naturais e a moeda. As organizações criminosas internacionais associaram-se a centenas de redes das máfias pós-sovieticas, muitas delas organizadas em torno de determinadas etnias, para lavar dinheiro, adquirir propriedades de valor e assumir o controle de negócios lucrativos, tanto legais como ilegais. Para se ter uma idéia da influencia destas máfias, em 1997 estimou-se que 41.000 empresas industriais, 50% dos bancos e 80% das joint ventures, tinham algum tipo de conexão criminosa. Alem disso, a economia informal (sem registros) representa 40% da economia russa.

Conflitos Etnicos

Os conflitos étnicos que passaram a ocorrer com grande freqüência depois da desintegração da União Soviética, a partir do final dos anos 80, devem ser entendidos levando-se em conta os seguintes aspectos:
Grande parte das fronteiras internas da URSS não foi bem definida historicamente;
Nas ultimas décadas, o crescimento demográfico dos grupos não russos, especialmente o dos muçulmanos da Asia Central, foi muito mais elevado que o do grupo russo;
Apesar de o grupo russo estar concentrado na Republica russa, cerca de 25 milhões de russos estão espalhados por quase todas as outras regiões do país;
Existem cerca de 45 milhões de não russos vivendo fora de seus territórios étnicos originais.
Como conseqüência desses fatores (especialmente os dois últimos) conclui-se que nenhuma das republicas que faziam parte da URSS era totalmente homogênea do ponto de vista étnico. Em vista de tudo isso, os conflitos que ocorreram na URSS e que ainda ocorrem em regiões que dela fizeram parte, podem ser classificados em pelo menos quatro parte :
• O primeiro deles opõe uma minoria não russa contra o poder central estabelecido em Moscou, muito influenciado pelos russos. EX: Letônia, Lituânia e Estônia.
• O segundo tipo de conflito é aquele que envolve minorias não russas lutando entre si.Ex : região do Cáucaso.
• O terceiro tipo é aquele em que as duas formas de conflitos citados anteriormente ocorrem ao mesmo tempo. Ex: Republica da Geórgia.
• O quarto tipo de conflito é aquele no qual segmentos de um mesmo grupo étnico lutam entre si para alcançar o poder numa determinada republica. Ex: também na Geórgia.
Os conflitos de caráter étnico sempre preocuparam Gorbatchov, que chegou a afirmar, em 1989, que o sucesso ou o fracasso da Perestroika dependeria decisivamente de como o agudo e complexo problema das nacionalidades fosse resolvido. No final de 1991, depois da queda de Gorbatchov e do esfacelamento da URSS, o problema continuava sem solução.
Não há duvida de que a própria sobrevivência da Comunidade de Estados Independentes esta vinculada, em grande medida, a uma resolução para esse intrincado problema das nacionalidades.
Considerações Finais
O objetivo do presente trabalho foi de expor os principais pontos pertinentes que envolveram todo o processo de formação da Rússia, desde a formação do Império Russo, a passagem para a URSS e a conseqüente desintegração ocorrida em meados da década de 90. Procurou-se desta forma, abordar os principais fatores geopolíticos e geo-economicos que influenciaram, no decorrer das décadas, todas as transformações que este país sofreu e que ainda sofre, fruto da sua recente desintegração, cuja grande maioria dos problemas ainda estão ausentes de solução, como por exemplo, os problemas sociais causados pelo grande impacto da adoção de economia de mercado e de uma indefinição política e territorial acerca das diversas etnias existentes.

INDEPENDÊNCIA AFRICANA NO SÉCULO XX

No inicio do século XX o continente Africano não passava de uma imensa colônia, uma extensão territorial da Europa. Os africanos eram dominados politicamente pelos europeus, não tinham independência para gerir seus destinos como Estado. Eram nações sem Estado....

Até 1950 apenas 4 paises africanos eram independentes, sendo eles:
EGITO
ETIÓPIA
LIBÉRIA
REPUBLICA SUL-AFRICANA

Um fator determinante para que os paises africanos alcancem suas autonomias libertando-se do jugo europeu, foi a Segunda Guerra Mundial. Podemos dizer que a males que vem para bem., pois a 2a Guerra devastou a Europa que foi a grande derrotada no fritar dos ovos, pois tiveram que reconstruir seus paises arrasados pela guerra e com isso perderam o controle sobre as colônias, alem de verem o mundo, inclusive o seu próprio, sendo retalhado pelas duas superpotências que emergiram da guerra: EUA e URSS.

Na oportunidade criada pelo vácuo da guerra, as nações africanas lutaram pelas suas emancipações políticas e na década de 1950 os seguintes países africanos se tornaram independentes:




LÍBIA (1951)
SUDÃO (1956)
MARROCOS (1956)
GANA ( 1957)
GUINÉ (1958)

Das impérios colonialistas europeus os que tinham possessões na África eram:

FRANÇA
INGLATERRA
ESPANHA
PORTUGAL
BÉLGICA
ITALIA


Destes, os dois principais colonialistas eram os ingleses e franceses, a costa oeste eram predominantemente francesa e a costa leste da África era predominantemente dominada pelos ingleses.

Na década de 1960 houve a maior explosão de independência, talvez da história da humanidade, tendo alcançado a autonomia os seguintes países africanos:

CAMARÕES (1960)
TUNÍSIA (1960)
TOGO (1960)
MALI (1960)
SENEGAL (1960)
MADAGASCAR (1960)
CONGO FRANCÊS (1960)
SOMÁLIA (1960)
DAOMÉ (1960)
NÍGER (1960)
ALTO-VOLTA (1960)
COSTA DO MARFIM (1960)
CHADE (1960)
REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA (1960)
CONGO BELGA (1960)
GABÃO (1960)
NIGÉRIA (1960)
MAURITÂNIA (1960)
SERRA LEOA (1961)
TANGANICA (1961)
BURUNDI (1962)
RUANDA (1962)
ARGÉLIA (1962)
UGANDA (1962)
ZANZIBAR (1963)
QUÊNIA (1963)
REPÚBLICA DE ZAMBIA (1964)
NIASSALÂNDIA (1964)
GÂMBIA (1965)
RODÉSIA DO SUL (1965)
BOTSUANA (1966)
LESOTO (1966)
ILHAS MAURÍCIO (1968)
SUAZILÂNDIA ( 1968)
GUINÉ EQUATORIAL (1768)





Na década seguinte mais três paises africanos se tornaram independentes:

GUINÉ-BISSAU (1974)
MOCAMBIQUE (1975)
ANGOLA (1975)

Os paises africanos de língua portuguesa que estavam sob o domínio de Portugal foram os últimos a obterem a independência e ainda houve violência mais acentuada, pois predominada em Lisboa a política do ditador Salazar que não queria de maneira alguma perder as possessões na África.



------------------------------------

domingo, 10 de janeiro de 2010

SÉCULO XX

O livro “A ERA DOS EXTREMOS: O BREVE SÉCULO XX” escrito por Hobsbawm é um livro que procura compreender o que levou as nações a seguirem por caminhos tão opostos como o comunismo soviético e o capitalismo ocidental, duas linhas político-econômicas que separaram o mundo no século XX.
Vitor Letízia fez um excelente comentário sobre o livro de Hobsbrawm o qual tomei a liberdade de copiar na íntegra suas observações sobre o livro A ERA DOS EXTREMOS.

A minha posição sobre o comunismo soviético é bem objetiva e clara: O Comunismo soviético foi uma política Satanista produzida nas Profundezas do Inferno e das Trevas para levar os homens a escravidão, a opressão, ao ateísmo e a miséria. O comunismo foi um grande golpe forjado pela mentira de que pela força se conseguiria transformar a sociedade em mais justa e igualitária.
Não podemos esquecer que milhões de cristãos foram perseguidos pelos comunistas ateístas que fecharam igrejas e executaram seus fiéis. No outro extremo estava os Estados Unidos da América, a maior nação protestante do mundo no século XX. Graças aos americanos as trevas do comunismo ateísta não se alastraram por todo o planeta. Eu que vivi na época da guerra fria e das ameaças soviéticas ao mundo ocidental fiquei sem acreditar ao ver a URSS se desmanchar sem que houve um disparo de missel ou uma explosão nuclear.




O mundo inteiro temia uma guerra declarada entre o ocidente capitalista e o comunismo soviético. Falava-se em armamento nuclear capaz de destruir 50 vezes o planeta Terra. Mas o Bem triunfou sobre o Mal. Não acredito em um comunismo forçado, imposto, acredito na diferença entre os homens, acredito na solidariedade e na justiça visando distribuir as riquezas não de forma igual, mas justa. Os mais esforçados e capazes devem ganhar mais do que os indolentes e menos talentosos. Não acredito que os fortes devem subjugar os fracos, mas ajuda-los. Os ricos devem continuar existindo não para minar os pobres, mas para dar emprego, oportunidades e dignidade aos menos favorecidos pela sorte e pela vida.
Toda ideologia político-social-econômica sem Deus só tem um caminho: a destruição. O capitalismo também não é a porta do céu. A usura, ganância e materialismo do capitalismo são tão maléficas a alma como o comunismo ateísta. A humanidade precisa evitar idéia extremadas.
A Era dos Extremos:
o breve século XX.
Hobsbawm, Eric.
São Paulo, Companhia das Letras, 1995. 598p.
resenhado por Vito Letízia
Talvez o maior mérito do livro A era dos extremos de Hobsbawm seja transmitir uma forte impressão do tamanho da catástrofe humana que foi o século XX. Catástrofe em relação às mortandades gigantescas, sem equiparação possível com qualquer período histórico anterior. Catástrofe em relação à desvalorização do indivíduo, ao qual, durante longos momentos do século, foram negados todos os direitos humanos e civis, que haviam sido arduamente conquistados durante o ‘longo século’ precedente: 1789-1914.
Aliás, a impressão de catástrofe é forte justamente porque o período histórico anterior se marcara em todas as mentes como o século que colocara a idéia do progresso como inevitabilidade, não só em termos materiais, mas também em relação ao avanço das liberdades, apesar das monarquias e das forças conservadoras, que resistiam tenazmente desde a Revolução Francesa.
Hobsbawm incita à colocação de uma pergunta, que seu livro não consegue responder: como foi possível chegar a isso? Como foi possível descer tanto na escala da civilização, apesar de uma vitória tão gigantesca para as forças progressistas como a Revolução Russa de 1917? Hobsbawm não pretendia mesmo responder a tudo. Mas incitar o leitor a se fazer perguntas dolorosas já é um mérito inestimável. As deficiências do livro estão mais no enfoque adotado na abordagem de alguns temas importantes.



O ano de 1917, explica Hobsbawm, pretendia ser o início da revolução mundial. E, desse modo, foi visto por milhões de pessoas, mesmo em países longínquos. Apesar disso, Hobsbawm acha que o mundo não estava maduro para uma revolução proletária naquele momento. É possível que seja uma suposição válida; e não é fácil provar o contrário. Mas cabe perguntar: será que algum dia haverá uma revolução que atinja imediatamente os principais países do mundo? Talvez o problema a resolver não seja por que a Revolução de 1917 não se espalhou imediatamente pelo mundo, mas antes por que a chama da revolução proletária pôde ser tão rapidamente submergida por uma vaga reacionária mundial. Vaga que Hobsbawm mostra detalhadamente ser mais ampla que os movimentos baseados explicitamente no modelo italiano ou alemão de fascismo.


Em todo o caso, verificou-se concretamente que os bolcheviques ficaram isolados e encurralados numa revolução nacional, cuja preocupação passou a ser logo a simples sobrevivência. Fato consumado. Mas o problema aqui é que Hobsbawm faz uma ligação direta entre a sobrevivência da Revolução Russa e a sobrevivência de uma unidade política abrangendo todo o antigo Império Russo. Essa ligação só teria sentido na perspectiva de uma "revolução socialista num só país", caso em que o tamanho do país é uma questão vital. Hobsbawm, porém, parece não acreditar na viabilidade da revolução socialista só na Rússia. Então seria o caso de fazer a distinção necessária: revolução mundial e sobrevivência da unidade do Império ex-czarista eram coisas diferentes e mesmo contrárias. Aliás, o governo bolchevique, em sua primeira fase, não pretendia impor-se sobre todo o ex-Império. Nessa fase é que foram concedidas, sem conflito, as independências da Finlândia, da Polônia e dos Estados Bálticos, todos anteriormente províncias do Império Russo. Nenhum desses novos países declarou-se socialista. Nem por isso, o governo bolchevique se achou na obrigação de impedir sua independência.
Não perceber a contradição entre revolução e império faz Hobsbwam valorizar a disciplina bolchevique de modo acrítico, misturando disciplina consciente e arregimentação cega, além de atribuir aos bolcheviques, objetivos que estes não se davam antes de 1921. Manter o Império havia sido objetivo central do czar e da impotente burguesia russa (impotente em parte porque se submetia ao czar e por amor ao Império), não era objetivo dos revolucionários .
Sem perceber isso, não dá para entender como foi possível que, após uma revolução da importância da de 1917, que despertou na humanidade as imensas esperanças descritas por Hobsbawm no capítulo doze, tenha sido imediatamente seguida do mais profundo retrocesso político do século. Apenas a não-extensão da Revolução Russa não é suficiente para explicar isso. A Revolução Francesa terminou militarmente derrotada. Nem por isso deixou de exercer influências libertárias que as próprias monarquias contra-revolucionárias tiveram que levar em conta para sobreviver. Já no caso da Revolução de 1917, ocorre o contrário. Cerca de dez anos depois desce a mais negra noite de todos os tempos: é "meia-noite do século", disse Victor Serge, sem que o partido que dirigira a Revolução Russa tivesse perdido o poder. Alguma coisa de muito essencial deve ter deixado de funcionar, sob a máscara de uma falsa continuidade política. E deve ter sido uma reviravolta muito mais grave e profunda que o Thermidor da Revolução Francesa.
As conseqüências disso se fizeram sentir antes, durante e no fim da Segunda Guerra Mundial. Hobsbawn descreve os sofrimentos causados pela Guerra como mero resultado das próprias operações militares. Mas nem tudo foi resultado inevitável do simples uso do poder destrutivo disponível na época. Na Primeira Guerra Mundial não se havia visto ato tão sanguinário como o massacre de quatro mil prisioneiros poloneses, por ordem de Stalin, em 1940. A Paz de 1945 repetiu as barbaridades da Paz de Versalhes com aumento, apesar da participação da potência ‘socialista’ entre os vencedores de 1945. A maior parte dos deslocamentos de povos no fim da última guerra foi puro revanchismo, com caráter explícito de limpeza étnica. Por incrível que pareça, no fim da Primeira Guerra Mundial foi possível ver um presidente burguês: Woodrow Wilson, dos EUA — ridicularizado por Lenin —, pregar uma paz sem anexações. No fim da Segunda Guerra Mundial, não houve voz contra o revanchismo. Treze milhões de alemães foram expulsos da Europa oriental e central, com o único objetivo de aumentar o lebensraum eslavo. Foram expulsos simplesmente pelo fato de serem alemães. É de Stalin a frase: "Um alemão só é bom, morto". Não disse um nazista. Assim, o que W. Wilson não havia conseguido em 1919 — ser levado a sério como campeão da democracia da autodeterminação dos povos — foi conseguido por Roosevelt e Truman sem muito esforço. Porque estes tinham em frente, como termo de comparação, a URSS, não mais a Rússia revolucionária dos tempos de Wilson.
Hobsbawm dá uma grande importância à depressão dos anos 30 como determinante dos rumos políticos da época. A depressão teria tido um papel decisivo em fazer da democracia "uma planta frágil", em muitos países. Isso até tem um fundo de verdade. Mas não é possível entender completamente a fragilidade da democracia no entreguerras sem lembrar o progressivo afastamento entre luta por liberdades democráticas e luta pelo socialismo, praticado pela III Internacional desde o começo. Essa prática — depois teorizada para justificar o despotismo stalinista — fez que o segmento importante do movimento operário deixasse de ser um baluarte contra os movimentos restauracionistas da ordem social, gerados pelo capitalismo em crise. Antes de 1914, ‘todo’ o movimento socialista fora também um movimento libertário. Além disso, para Hobsbawm, o impacto da depressão teria sido a grande força renovadora das idéias econômicas da época, porque a depressão teria desacreditado o pensamento econômico clássico, abrindo espaço para as políticas de regulação do capitalismo posteriores. Especialmente em razão desse descrédito da ortodoxia econômica, no segundo pós-guerra, os "formuladores de decisões", como diz Hobsbawm, passaram a ter preocupações centrais: obter uma distribuição de renda mais igualitária do que a normalmente ensejada pelo capitalismo ‘puro’ e evitar grandes níveis de desemprego.
Hobsbawm se deixa levar muito facilmente pela crença na racionalidade dos "formuladores de decisões" capitalistas. Ele chega a ponto de chamar de reforma do capitalismo" a adoção das políticas de pleno emprego e bem-estar social no segundo pós-guerra. Tal ‘reforma’ é definida por ele como "essencialmente uma espécie de casamento entre liberalismo econômico e democracia social". Um pouco de resguardo seria melhor.
Em situações de grande perigo social, os "formuladores de decisões" instalados no poder tendem fortemente a dividir-se entre dois tipos básicos de saída, conforme suas inclinações pessoais: partir para o enfrentamento com os movimentos reivindicatórios ou partir para concessões. Ora, no fim da Segunda Guerra Mundial, o perigo para o capitalismo era uma realidade assustadora. Diferentemente do que ocorrera na vez anterior, nenhum país em guerra da Europa ocidental, exceto a Grã-Bretanha, conseguira manter de pé o aparelho de Estado capitalista. Todos os demais países beligerantes emergiram da Guerra com aparelhos de Estado improvisados, em que se misturavam instituições criadas pela resistência antifascista e instituições de emergência criadas pelos exércitos de ocupação. Em várias regiões, houve ‘zonas liberadas’ por partisans antes da chegada dos exércitos regulares. Tentar impor soluções capitalistas ortodoxas naquela parte da Europa, naquela época, seria realmente demência suicidária. Razão pela qual todos os economistas com a tarefa de se dirigir ao grande público viraram subitamente humanistas sensíveis. Para explicar suas mudanças de opinião, economistas antes conhecidos como empedernidos mastigadores de ‘fatores de produção’, passaram a falar nas tristes recordações da Grande Depressão. Mas as tristes recordações não explicavam tudo.
Hobsbawn observa, pertinentemente, que os resultados da Segunda Guerra Mundial retiraram a extrema-direita do cenário político por um bom tempo. No fim da Guerra, só os "formuladores de decisões" dispostos a fazer concessões tinham voz e audiência. É isso que mais explica por que foi tão fácil fabricar um pacto aceitável para trabalhadores e patrões, então alçados à categoria nova de ‘parceiros sociais’. Chamar essas concessões de "reformas do capitalismo" exagera seu alcance e objetivos. As políticas de bem-estar social e pleno emprego do segundo pós-guerra foram uma resposta adequada a uma situação política em que o sistema capitalista se encontrava extremamente fragilizado na Europa ocidental, ao passo que a oriental estava ocupada pela URSS. Mas mesmo nos EUA, cujo governo do Partido Democrata terminara a Guerra prestigiado, não havia condições de ignorar as esperanças da enorme massa mobilizada para a Guerra e que retornava buscando o ‘mundo melhor’ que a propaganda oficial prometera durante todo o conflito. Por outro lado, em termos econômicos, na Europa, partia-se de infra-estruturas destruídas, com os trabalhadores e toda a classe média, baixa e alta, reduzidos às rações alimentares distribuídas pelo Exército dos EUA. Quer dizer: as possibilidades de investimento eram aparentemente infinitas, com grande espaço para uma distribuição mais igualitária de rendimentos, sem renúncia a lucros.
Hoje se pode ver que aquilo não era exatamente uma reforma do capitalismo porque assim que aquelas condições anormais deixaram de existir, o estado de bem-estar começou a ser atacado. E já nos anos 80, todos os economistas com clientes importantes voltaram aos mesmos cacoetes clássicos dos anos 20 e 30. Eles simplesmente voltaram a seu estado normal. Porque os Estados capitalistas estão agora firmes; e os "formuladores de decisões", no momento, não estão conseguindo enxergar a menor nuvem negra no horizonte à esquerda.
Talvez o pecado mais grave do livro seja a falta de conclusões convincentes sobre o "socialismo real" e o colapso da URSS. Sem dúvida, é bastante boa a comparação que Hobsbawm faz entre a URSS e China, assim como sua percepção de que o Estado burocrático chinês se mantém porque lançou suas reformas sobre uma população majoritariamente camponesa. Mesmo assim, não é o caso de deixar passar sem retoque a opinião da mídia, impressionada com a aparente estabilidade do regime chinês. E quanto às reformas de Gorbachev, a conclusão de que: "A URSS sob Gorbachev caiu nesse poço em expansão entre a glasnost e a perestroika", é muito pouco para explicar um colapso fragoroso que, por incrível que pareça, apenas cinco anos antes estava fora de qualquer previsão, mesmo por parte de seus mais ferrenhos adversários.
Não há como fugir a impressão de que, a respeito da URSS, viveu-se um equívoco universal durante decênios. Seria preciso pelo menos tentar uma explicação que começasse a abordar esse equívoco, partilhado pela direita e pela esquerda, quanto ao caráter e, sobretudo, à viabilidade do "socialismo real".
Em certo ponto do livro, Hobsbawm parece reconhecer que o regime soviético era inviável:
A tentativa de construir o socialismo produziu conquistas notáveis — não menos a capacidade de derrotar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial —, mas a um custo enorme e inteiramente intolerável, e daquilo que acabou se revelando uma economia sem saída.
As "conquistas notáveis", no caso, estão todas ligadas à industrialização da URSS, que chegou a alçar-se à condição de segunda potência industrial do mundo, partindo praticamente do zero no fim da Guerra Civil, em 1920. Entretanto, o fato de que essa industrialização terminou num beco sem saída recoloca o problema do valor do método escolhido ou de algum equívoco fundamental que deve ter havido em suas origens; ou surgido em algum ponto de sua edificação.
Para tentar uma primeira resposta, poder-se-ia inquirir se uma industrialização obtida a chicote pode ter vida longa. O senso comum já é suficiente para suspeitar que o chicote não é bom instrumento para desenvolver a criatividade. O chicote pôde fazer a URSS alcançar momentaneamente o Ocidente, mas não ultrapassá-lo. A coerção desmesurada já continha os germens da estagnação tecnológica que levaria a URSS ao impasse mais tarde. Isso pode ser afirmado, mesmo que se queira aceitar o chicote como "motor" válido para a construção de algum "socialismo" monástico de baixo consumo. De qualquer maneira, no caso da URSS real, interessa ressaltar que o resultado alcançado foi provisório. Sua industrialização avançava inexoravelmente para um beco sem saída.
No entanto, apesar de reconhecer que o resultado final da industrialização stalinista foi a "economia sem saída", Hobsbawm mantém-se apegado à idéia de que a URSS não teria outro caminho a seguir nos anos 20-30:
Qualquer política rápida de modernização da URSS, nas circunstâncias da época, tinha que ser implacável e, porque imposta contra o grosso do povo, impondo-lhe sérios sacrifícios, coercitiva em certa medida.


A própria frase — "política (...) coercitiva em certa medida"— deixa no ar uma questão: em que medida? Aquela medida de coerção foi correta? Mais lógico, à luz do que Hobsbawm sabe hoje, seria dizer que talvez alguma coerção fosse inevitável "nas circunstâncias da época", porém a coerção stalinista provou ser incompatível com uma industrialização inovadora e sustentável a longo prazo. Ou, até mesmo, poderia continuar achando que, em 1929, não houvesse um caminho muito diferente à disposição de Stalin, mas para ser coerente com sua própria conclusão final sobre a economia soviética, Hobsbawm deveria também lembrar que o governo da URSS tinha que encontrar um meio de dispensar a coerção "contra o grosso do povo", o mais cedo possível, se quisesse manter a economia viável .
Sobra a impressão de que, a respeito da URSS, o arrazoado de Hobsbawm é, em parte, emotivo. Isso transparece mais fortemente na convalidação implícita das palavras de Oskar Lange em seu leito de morte:
Havia uma alternativa para a corrida indiscriminada, brutal, basicamente não planejada, ao primeiro plano qüinqüenal?. Gostaria de dizer que havia, mas não posso.
Hobsbawm parece não se dar conta que Oskar Lange, um defensor da economia planificada, morreu em 1965, ou seja, morreu a tempo de levar consigo suas convicções intactas. Os que morreram ou vieram a morrer depois de 1991 não têm mais esse privilégio, a não ser que, de 1989 em diante, tenham passado a circular de olhos vendados.
Além do mais, já antes do desabamento da URSS, surgiram novas informações sobre os anos 30, que O. Lange não chegou a conhecer. Informações que Hobsbawm mostra ter, ao sugerir veladamente que, somente para o Segundo Plano Qüinqüenal (1933-1937), poder-se-ia fazer uma estimativa de 16,7 milhões de mortos, vítimas da fome e da repressão. Isso é inferido da constatação do decréscimo da população da URSS no período do plano; informação classificada como secreta em 1938. Quer dizer: Stalin proibiu a divulgação das estatísticas demográficas do Segundo Plano Qüinqüenal porque estas depunham contra sua "vitória econômica".
As informações que se têm hoje sobre os anos 30 são arrasadoras. Mesmo continuando a aceitar que a URSS não poderia dispensar a imposição de sacrifícios ao povo naquela época, sobra base mais que suficiente para afirmar, em 1990, que aquela coerção foi de eficácia imediata altamente duvidosa, além de comprovadamente nefasta para o desenvolvimento futuro da URSS. Nessa questão da suposta necessidade histórica do stalinismo, talvez melhor seja deixar falar Moshe Lewin que, já em 1965, escreveu um artigo para a revista Soviet Studies, na qualonde, após descrever detalhadamente a enorme perda de energia humana e de meios materiais gerada pelos zigue-zagues desastrosos de Stalin durante a coletivização da agricultura, conclui:
Se é certo que a industrialização devia acarretar mudanças profundas no campo, é falso, a nosso ver, imaginar que tais mudanças só poderiam ser feitas através daquela coletivização que a Rússia experimentou. Por que fazer do kolkhoz a única forma de exploração coletiva, quando as estruturas aldeãs sugeriam outras soluções? (...) Pretender que a liquidação da esquerda, adepta entusiasta da coletivização e da política antikulak fosse uma pré-condição capital da industrialização futura e que essa liquidação devesse ser feita por um Stalin que, nessa época (1928-1929), sequer refletira sobre o que seria uma política futura, significa sustentar uma teoria bem estranha. Só é possível subscrevê-la aceitando outra teoria igualmente bizarra, que consiste em apresentar Stalin como um "deus ex-machina", como o único homem no Partido capaz de transformar a Rússia em país industrial.




Paralelamente a sua apreciação sobre a economia da URSS, Hobsbawm vai passando uma idéia, igualmente afetada por seus sentimentos pessoais, sobre a legitimidade dos Estados erguidos em nome do "socialismo real". Os acontecimentos espetaculares do fim dos anos 80 e início dos 90 na Europa oriental e na URSS dão larga margem a um questionamento da própria legitimidade dos regimes instaurados nessa parte do mundo.
A respeito da Europa oriental, Hobsbawm nota que as burocracias desses países procuraram retirar-se do poder discretamente (exceto na Romênia) "porque tinham visivelmente perdido a justificativa que mantivera seus quadros comunistas no passado". A justificativa, no caso, era o "socialismo real", que só funcionava sob a tutela da URSS. Quando esta acabou, deu uma epidemia de amnésia na Europa oriental. De repente, seus governantes não se lembravam mais de como tinham ido parar ali.
Para a URSS, a opinião de Hobsbawm é diferente:
Ao contrário de muitos estrangeiros, todos os russos sabiam bastante bem quanto sofrimento lhes coubera e ainda lhes cabia (em 1953). Contudo, em certo sentido, pelo simples fato de ser um governante forte e legítimo das terras russas e delas um modernizador, ele (Stalin) representava alguma coisa deles próprios.
Depois de confundir sobrevivência da revolução com sobrevivência do Império Russo, Hobsbawm só podia confundir conformismo do povo com legitimidade de Estado stalinista.
A legitimidade do Estado soviético nasceu e ficou ligada até o fim a seus laços com a Revolução de Outubro. Esses laços deixaram de ter realidade efetiva já nos anos 20, porém todos os burocratas que liquidaram as esperanças de Outubro tinham consciência de que a legitimidade de sua dominação dependia daqueles laços. Por isso, mantiveram a farsa do "socialismo" enquanto puderam. Quando não puderam mais, foi um salve-se quem puder. Diante de todos os acontecimentos dos anos 80 e 90, pode-se afirmar que a brutalidade aparentemente absurda de Stalin decorria, em parte, de sua legitimidade precária. Só partindo dessa premissa se pode começar uma discussão séria sobre as hecatombes de Stalin, superando a mera lamentação humanitária, assim como o conformismo com a suposta inevitabilidade de um regime "implacável" naquela época e lugar.

Somente um regime de legitimidade precária pode desabar da noite para o dia sem que se manifestem forças sociais significativas em sua defesa. O grande argumento histórico pró-Stalin (lembrado por Hobsbawm) foi sua vitória sobre Hitler. De fato, foi a vitória sobre os nazistas que deu à burocracia do Kremlin a autoridade que lhe permitiu prolongar seu regime até o fim dos anos 80. Entretanto, uma olhada mais detalhada nos grandes fatos históricos é indispensável, para quem não quer se contentar com panegíricos.

A agressão hitleriana mostrou, desde seu primeiro momento, uma face brutalmente racista e antieslava (não só anticomunista), que tornou impossível qualquer movimento de simpatia em relação aos invasores por parte dos povos da Europa soviética, exceto de alguns, não-eslavos, da área do Cáucaso. É inegável que o extremo reacionarismo do comando nazista foi um fator favorável a Stalin; do mesmo modo que o extremo reacionarismo dos "brancos" na época da Guerra Civil (1918-1920) fora um fator favorável aos bolcheviques. O racismo antieslavo do comando nazista facilitou a aglutinação dos russos, ucranianos e bielo-russos em torno do único Estado que parecia capaz de salvá-los da aniquilação completa. Stalin mobilizou o povo fazendo apelo basicamente ao patriotismo. Os operários escreviam sobre os tanques, antes de remetê-los ao front: za rodinu (pela pátria). Se Stalin tivesse tentado mobilizar o povo pelo "socialismo" dos Planos Qüinqüenais, certamente ter-se-a desastrado. Não por acaso, o nome oficial da Segunda Guerra Mundial na URSS era ‘Grande Guerra Patriótica’. E assim a Guerra foi entendida pelo povo. Isso permite qualificar a legitimidade ganha pelo regime com a vitória sobre a agressão nazista. O regime legitimou-se como defesa eficaz dos povos eslavos contra agressores externos. Quer dizer: obteve um novo tipo de legitimidade, mais restrito. Nem antes, nem durante, nem depois da Guerra, o "socialismo" de Stalin foi sentido como aceitável e legítimo pelos povos da URSS, eslavos ou não.


O próprio Hobsbawm ressalta o apoliticismo extremo do povo nos países do "socialismo real". Ora, o apoliticismo na URSS tinha um significado especial. Era o único país do mundo que não podia ter um povo apolítico. Porque era o único que tinha como meta oficial ‘elevar o nível de consciência política da população’, para isso restringindo a propaganda religiosa e instituindo um certo ‘marxismo’ como matéria obrigatória em todos os níveis de ensino. Sob tal ordenamento da vida cultural, o profundo apoliticismo do povo soviético valia como uma rejeição maciça do regime.
Então, as conclusões devem ser tiradas: o Estado soviético conseguiu legitimar-se? Sim. Porém, em primeiro lugar, conseguiu-o somente depois da Segunda Guerra Mundial e não para todos os povos da URSS; em segundo lugar, essa legitimidade parcial e diferente da pretendida originalmente não dizia respeito ao "socialismo real".
Diga-se de passagem, mesmo pretendendo que o apoliticismo do povo soviético não seria evidência suficiente da legitimidade precária de seu Estado, as reações nacionalistas que se seguiram ao desmoronamento do regime não deixariam margem a dúvidas: ao primeiro abalo da capacidade repressiva do Estado soviético (em particular a desarticulação da KGB, vitimada pela glasnost), a ‘União’ entrou em rápida dissolução, inclusive a união ‘interna’ da Rússia.

No final do livro, Hobsbawm descreve a crise da própria economia capitalista. Ao lado de muita informação importante, Hobsbawm tira algumas conclusões temerárias. Como, por exemplo: "O triunfalismo neoliberal não sobreviveu aos reveses do início dos anos 90". É muito otimismo de Hosbsbawm achar que o neoliberalismo se encontre abalado em virtude dos sofrimentos que esteja causando à humanidade a partir dos anos 80.

Infelizmente, a história não é um sistema de reflexos sociais perseguindo o caminho do menor sofrimento. Se fosse assim, não se teria conseguido descer aos abismos de repressão sanguinária atingidos durante o ‘breve século XX’.
Sem dúvida, é absolutamente verdadeira a exposição do que Hobsbawm considera uma depressão econômica comparável à dos anos 30, hoje se estendendo em graus diversos no mundo inteiro. Entretanto, Hobsbawm subestima a capacidade de cinismo dos economistas com acesso ao poder e à grande mídia. Para eles, o que está ocorrendo é apenas um processo "inevitável" de adaptação à "globalização econômica". O sofrimento dos seres humanos não é parâmetro de avaliação dos resultados das políticas decididas pelos clientes desses economistas. E vai continuar sendo assim, enquanto reações sociais de grande envergadura não obriguem os "formuladores de decisões" a reverem seus parâmetros.
Todas as ressalvas acima não impedem que o livro de Hobsbawm mereça ser lido com atenção. Vale um bom curso de História. Mas mesmo os melhores cursos de História têm lições que devem ser recebidas cum grano salis.